Se há algo castrador é não demonstrarmos sentimentos de Amor por alguém. Faze-lo é renegar à vida que brota dentro de nós. Ao pulsar da nossa essência e ao sentido da nossa existência.

Então se é tudo isto, porque tantas vezes o fazemos? Ou melhor, não fazemos? Fundamentalmente por três razões. Por estupidez crónica, por medo e porque tem que ser. Analisemos.

As doenças crónicas são por definição patologias que não têm cura e esta não é excepção. Podem-se amenizar os efeitos, aprender a lidar com a maleita e viver de forma a que os sintomas não se tornem tão notórios. No entanto, é intrínseca ao ser e por lá há-de ficar. Por isso habituemo-nos à ideia e façamos um esforço diário para que tal agonizante peste não tome conta da nossa patética existência.

O medo é o maior inimigo da vida. É ele quem nos bloqueia, quem nos impede de progredir e de ser. A barreira psicológica mais forte e quase sempre infundada. Um obstáculo imenso num momento, que rapidamente se transforma num irrelevante pormenor do nosso caminho no mais curto espaço de tempo. Uma ilusão revestida das mais diferentes formas que, com o intuito de proteger de eventuais perigos, acaba por criar outros bem mais verdadeiros. Os da inacção e da impossibilidade de podermos vir a ser felizes. Mas nada que uma garrafa de whisky e umas linhas de coca não levem ao sítio.

O “tem que ser” é mais custoso. E é sobre ele que me quero verdadeiramente debruçar. Ao contrário dos dois anteriores, este depende pouco de nós. Tem muito mais a ver com hábitos, costumes e com a maneira de ser dos outros. O “tem que ser” é uma autêntica instituição. Erigido nos confins da história, este monólito resiste ao passar dos tempos, imperturbável com ventos, tempestades e intempéries de toda a ordem. Ninguém sabe como foi criado nem qual a sua utilidade, o que é um facto é que por cá anda e não aparenta ter intenções de abandonar o seu lugar. O “tem que ser” não é mais que um altar ao masoquismo. Um impedimento absurdo para se viver feliz e descansado. Pois se duas pessoas se amam não deveria haver razão nenhuma para não o expressarem. Infelizmente há. Há e não são poucas. “Ela não vai gostar”, “Ele não vai achar bem”, “Está errado demais”, “Está certo demais”, “Não quero que pense que sou fácil”, “Não quero que pense que sou um banana”, “Agora não me vai querer de certeza”, “E se me arrependo?”, “Ainda é cedo” ou “Já é tarde”, etc. E por aqui continuávamos nos mais comuns, confusos e desajustados pensamentos que nos acompanham a todos neste grande momento do “tem que ser”.

E enquanto o “tem que ser” manda e vai andando, nós vamos cada vez mais ficando. Em lado nenhum e sem perspectivas de nada. Seguindo por caminhos errados, presos apenas a pensamentos castradores da nossa alma e da nossa felicidade. Agarrados a ilusões, aguardando apenas a morte e escondendo-nos da vida para que esta não nos magoe.

Comments (1)

On 20 de fevereiro de 2011 às 22:22 , FC disse...

É impossível ler o que escreves e não pensarmos no assunto. Acho que muitas vezes espera-se pelo "momento certo" para dizer o que sentimos e não nos damos conta que esse momento é todo o dia, todos os dias. Por isso, não quero correr o risco de um dia pensar "podia ter dito..." o tempo é escasso mas dá para muito! Prefiro passar por "lamechas". Assim eu voto em substituir o "tem de ser" pelo "tenho saudades...PORQUE SIM" ou "és um bom amigo(a)...PORQUE SIM", "liguei...PORQUE SIM" ou ainda "porque digo isto isto agora? PORQUE SIM!".