Quando alguém nos chama pelos dois primeiros nomes é porque está profundamente irritado connosco. E de certeza que fizemos merda. Ainda hoje tenho bem viva na minha memória a voz da minha avó a exclamar “David Miguel!”. Era um som medonho. Quando aquele grito suava, imediatamente também eu fazia o mesmo. Começava logo a suar. Já sabia que estava fodido.

O tom de voz da minha avó era bem mais forte que um “Ai o caralho!” ou um “Oh meu ganda filha da puta!”. Era bem preferível um chorrilho de caralhadas seguido de uma carga de porrada monumental do que ouvir os dois nomes. E isso tem uma razão muito simples que se acentua com o avanço da idade. Quando ela exclamava a fatídica frase já nem era sinal que estava chateada, era de que estava desiludida. O que é bem pior.

À décadas que ninguém me chama pelos dois nomes. E é para continuar, que não ganho nada com isso. Curiosamente, quando se refere esta questão, só em lembro da voz da minha avó. Não é que tenha sido a única pessoa a evocar o medonho “David Miguel”. Não o foi de forma alguma, mas por alguma razão é a única voz presente em tal frase. Ela sempre disse, quando estava irritada comigo, que um dia, quando já cá não estivesse, ainda me ia fazer muita falta. Estava certa.

Em todo o caso…Avó se me estás a ouvir…

Tenho muitas saudades tuas e tinhas toda a razão, fazes-me imensa falta. Mas se é para voltares a este mundo para te pores a berrar “David Miguel” bem que podes ficar por terras do além que eu já tenho que chegue quem me chateie os cornos.

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