A semana passada acordei e senti-me estranho. Ao levantar-me da cama notei que algo não estava bem. Sentia-me diferente e não sabia bem porquê. Como todos os dias, decidi pôr musica a tocar, enquanto despertava e me preparava para mais um dia. No entanto, naquele dia, a banda sonora era diferente. Em vez de ouvir Guns N Roses ou a compilação “As melhores músicas de Hard-Rock para conduzir bêbado” dei por mim a ouvir os grandes êxitos dos Culture Club e da Madonna. E o pior é que estava a gostar. Sentia-me leve e bem disposto.
Fui até à casa de banho. Em vez do típico e simples mijar e passar a cara por água estive lá dentro uma hora. Depois de um banho de emersão parei em frente ao espelho. Olhava-me obsessivamente para este e coloquei todos os cremes que existiam no armário. Estranhei, pois no dia anterior nem sabia que ali estavam e muito menos para que serviam.
Pequeno-Almoço. Quando comecei realmente a comer, para além de já terem passado mais de trinta minutos, o cenário era radicalmente diferente do dia anterior. Uma mesa posta, com talheres e tudo, sumo natural, cereais e uma serie de produtos que diziam “fitness” e “regulador da flora intestinal”. Onde estava a minha chávena de café e a minha sandes de presunto? Decidi vestir-me à pressa e dirigir-me ao centro de saúde mais próximo.
No entanto sair de casa não foi assim tão fácil. Lembro-me mal mas do pouco que me recordo sei que vesti todas as roupas que tinha em casa. No fim acabei por sair com as calças mais justas que tinha e com uma blusa da minha mãe.
A espera no centro de saúde foi, como seria de esperar, enorme. No entanto, o tempo não me custou nada a passar. Estive sempre entretido à conversa com umas senhoras muito agradáveis que simpaticamente me contaram a toda a sua fascinante vida. Para além de ter lido a fundo todas as revistas cor-de-rosa que se encontravam na sala de espera.
Ao entrar no consultório dirigi-me ao médico com uma voz muito aguda. Elogiei a decoração do espaço e prontamente lhe expliquei o que me trazia ali. Relatei-lhe o meu dia, o facto de ter a sensação de ter os pulsos partidos e que estava a pensar em seguir carreira como actor em teatro de revista.
O médico olhou-me nos olhos. Com um ar sério de quem aparentava tratar-se de uma situação grave. E disse. “Meu caro, você apanhou Gay e vai ser internado imediatamente. É nesta fase inicial que temos de agir para que a doença não progrida.”.
Fui prontamente colocado numa sala. Decorada com calendários de mulheres nuas com seios amplamente desenvolvidos e motos de elevada cilindrada. Ao fundo um ecrã passava continuamente jogos de futebol e ao carregarmos no comando soava uma voz que nos dizia em tom agressivo “Para que é que queres mudar? Está a dar bola.”.
Depois de umas horas neste ambiente, e com uma alimentação à base bifanas, couratos e sandes de torresmos comecei a sentir-me melhor. O soro de tinto da casa e a bica de imperial à cabeceira da cama fizeram o resto. O médico entrou na sala, agora com um ar bem mais sorridente, e disse: “Vejo que já está bom. Foi por pouco, senão tem sido tratado a tempo poderia ter tido efeitos catastróficos. Vá descansado. Tenha é cuidado no futuro, especialmente em idas a casas de banho públicas e a beber cervejas light e descafeinados.”. Fica o alerta.
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Genial meu caro... genial!