Como é sabido por todos, este fim-de-semana vai-se realizar em Lisboa a cimeira da NATO. Já devem ter ouvido isto repetidas vezes por isso a última coisa que quero é maçar-vos com descrições, críticas ou debates sobre a validade da mesma. Se isso vos interessa decerto que não faltarão sites e blogs que dedicaram extensos comentários a tudo isso.
O que me captou a atenção não foi a cimeira em si mas um pormenor em particular. Todos os chefes de Estado têm comitivas. Esquadrões de auxiliares nas mais variadas áreas para prestar apoio ao seu representante. Até aqui tudo bem. Não vamos ser cínicos nem ingénuos e imaginar que os governantes dos países envolvidos vinham sozinhos até à cimeira. Já agora de carro, a partilhar as contas da gasolina e a dormir em casa dos primos. Sejamos realistas.
Mas tudo na vida tem limites. E um caso que supera em muito o limiar da lógica e da razoabilidade é o da comitiva norte-americana que tem à volta de novecentas pessoas. Eu disse bem, novecentas. Para que raio é precisa tanta gente? Será que Barack Obama tem acessos de megalomania? Isto da presidência subiu-lhe à cabeça e agora acredita ser um sultão asiático ou uma estrela de hip-hop? Não conheço o senhor pessoalmente mas duvido que assim seja. Não por ele mas tendo em conta os comportamentos dos americanos neste tipo de situações acredito ser prática corrente.
Seja de quem for a culpa do tamanho absurdo desta comitiva é um exercício mental interessante imaginar quais as funções das novecentas pessoas envolvidas. Deve haver gente para tudo. Mas para tudo mesmo. Mas façamos contas.
Li que Barack Obama recebe cerca de trinta ameaças de morte por dia (ainda se queixam vocês do vosso emprego). Logo, é normal que hajam bastantes membros de segurança. Em números oficiais serão cerca de duzentos. Daí ainda nos sobram cerca de setecentas pessoas divididas entre cozinheiros, equipa médica e assessores. Ora bem, para cozinhar e dar apoio clínico a tanta gente deverão ser precisas umas cem pessoas. Cinquenta para fazer as sandochas e outros cinquenta para fazer curativos de Betadine e pensos rápidos e aviar Benurons. Tudo certo. Mas ainda nos faltam seiscentas pessoas. Sobram os assessores.
O que raio é que é preciso “acessar” para serem precisas seis centenas de pessoas? Será que “acessar” é assim tão trabalhoso? Pelos vistos é, deve ser pior que a estiva. Deve pesar imenso e ser complicado de transportar. Ou então “acessar” divide-se em muitas áreas. Daí serem precisas tantas pessoas com funções especificas. Maquilhadores, costureiras, cabeleireiros, responsáveis de comunicações, motoristas, mecânicos, malta para trazer o café e o chá a todos os outros, porta-voz para a imprensa, o gajo que vai ao quiosque comprar os jornais do dia, a saca-bicos, o saca-bicos, uma mão cheia de tradutores, familiares, um bobo, um anão, umas dezenas de lambe-botas, conselheiros de imagem, o cão, os tratadores do cão, telefonistas, aias e consortes, um gajo que esteja sempre bem disposto, um resmungão, um dealer, estafetas, estafetas do dealer, um reverendo, o Eusébio, um tesoureiro, um departamento de contabilidade, informáticos, produtores de televisão, empresários, carregadores de malas e mais uma série de gente que há-de ser absolutamente indispensável.
Realmente se formos a ver bem novecentos é pouco. Deviam duplicar o número não vá faltar alguma coisa. Lisboa não é Nova York e depois é uma dor de cabeça para arranjar o que quer que seja.
Comments (0)