Sempre admirei pessoas que se estão completamente a cagar. Notem desde já que não estou a falar de seres desprezíveis sem respeito pelo próximo. De narcisistas ou de alguém que embirra só porque gosta de chatear os outros. Também não me estou a referir a problemas de flatulência ou de portadores de doenças ao nível do músculo do esfíncter. Estou sim a falar de alguém que não está para ouvir merdas, aturar malucos ou de engolir sapos. De alguém que apenas dá importância àquilo que é verdadeiramente importante.
Haverá coisa mais linda neste mundo que mandar calar quem quer seja porque nos começou a entediar com os mais desinteressantes e despropositados assuntos? Perder por completo qualquer pudor social em agradar outros, que nos desagradam tanto, é mais que uma obrigação. O respeito não deve ser um facto consumado. O respeito tem de ser ganho. Conquistado com a nossa personalidade. Um diamante a ser lapidado todos os dias para que não nos tornemos mais do mesmo mas sim mais de nós próprios. Um sinal de carácter e de crescimento.
Senão de que vale tudo isto? Batermos em lugares comuns e conversas de circunstância não faz de nós melhores seres humanos. Faz apenas da nossa existência uma parvoíce sem qualquer espécie de sentido tal como muitas das coisas que por vezes empurramos pela goela uns dos outros.
Não confundam isto com abrir a boca apenas quando se tem algo de interessante para se dizer. Se assim fosse passaríamos a maioria do tempo em silêncio e isso também não leva a lado nenhum. Estar calado é uma excelente forma de não arranjar problemas mas não pode ser o mote de uma vida. É bem preferível encher este vazio com o absurdo, o disparatado, o irónico, o sarcástico e tudo o mais que nos apeteça. Antes isso que enveredar pelo desinteressante e previsível. Abandonemos o conforto do terreno neutro e passemos à bastonada à imbecilidade.
Como era bom que assim fosse mas é deveras complicado. As conversas de circunstância, o debate sobre o tempo e os cortinados da sala, os desbloqueadores de conversa, a vidinha e tudo mais aquilo que nos faz falar falar e não dizer pôrra nenhuma, aborrecendo os outros e nós mesmos, é parte integrante da nossa essência. E se querem que vos diga isso não tem mal nenhum. O que é perigoso é acharmos que o irrelevante é o que mais importa e que a força vital da nossa vida não é mais que um assunto secundário.
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