Vive o instante que passa. Vive-o intensamente até à última gota de sangue. É um instante banal, nada há nele que o distinga de mil outros instantes vividos. E no entanto ele é o único por ser irrepetível e isso o distingue de qualquer outro. Porque nunca mais ele será o mesmo nem tu que o estás vivendo. Absorve-o todo em ti, impregna-te dele e que ele não seja pois em vão no dar-se-te todo a ti. Olha o sol difícil entre as nuvens, respira à profundidade de ti, ouve o vento. Escuta as vozes longínquas de crianças, o ruído de um motor que passa na estrada, o silêncio que isso envolve e que fica. E pensa-te a ti que disso te apercebes, sê vivo aí, pensa-te vivo aí, sente-te aí. E que nada se perca infinitesimalmente no mundo que vives e na pessoa que és. Assim o dom estúpido e miraculoso da vida não será a estupidez maior de o não teres cumprido integralmente, de o teres desperdiçado numa vida que terá fim.

Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente IV"

Comments (2)

On 20 de janeiro de 2011 às 12:22 , Piri disse...

Nada melhor do que viver a vida da melhor maneira possível, nunca se sabe que momentos vão ser recordados o resto da vida. É curioso, mas mesmo os momentos que nos parecem insignificantes, depois de passarmos por eles e não os gozarmos, já não há volta a dar, foram-se e podes tentar repeti-los que nunca vão ser iguais.
Ao longo da vida, já me apercebi que por muito que uma pessoa seja amada por muitos ou poucos, depois da morte a pouco e pouco a memória da pessoa vai desaparecendo... Só podes ser feliz e fazer alguém feliz em vida, depois de morto é capaz de ser complicado, por isso, é viver até cair para o lado !
Desculpa o testamento, mas hoje deu-me para isto...

 
On 20 de janeiro de 2011 às 14:57 , David Dias disse...

Não peças desculpa que eu gostei bastante de ler