Não percebo esta obsessão com os recém-nascidos. O que é que têm de especial? Todos os dias nascem milhões e milhões de seres por todo o mundo. Porque carga de água havemos de dar relevância a um em particular? E não estou só a falar de seres humanos. A todo o momento surgem recém-nascidos das mais variadas formas e espécies. É a coisa mais normal do mundo.

“Ah, o milagre da vida”. Mas qual milagre, caralho? Milagre é o José Mourinho ter, com o Inter de Milão, ganho, na época passada, todas as provas em que esteve envolvido. Isso sim é digno de relevância. Agora existir mais uma Susana ou um Pedro neste mundo não tem importância nenhuma. É mais um. Que raio de diferença pode fazer?

E depois há a velha. Há sempre uma velha em qualquer acontecimento em Portugal, já repararam? Neste caso é aquele ser que se põe a olhar para o puto através do vidro na maternidade. Como quem tenta descortinar numa montra o preço de uns sapatos na época de saldos. Esta velha é uma familiar qualquer do infeliz que acabou de vir ao mundo. Habitualmente uma avó mas também pode ser uma tia ou a vizinha do lado. Qualquer coisa serve, desde que seja velha. Velha e a cagar completamente para a desgraçada da mãe. Aquela que passou as últimas doze horas em plena agonia e sofrimento. A quem agora ninguém liga pois já pariu o rebento e é este o centro das atenções.

A velha tem uma função muito importante. É a ela que cabe o mais fidedigno teste de paternidade. Após visualizar brevemente e de forma vaga o recém-nascido, este mono recita pérolas como: “É mesmo parecido com o avô”, “Tem as orelhas da mãe”, “O nariz é do pai” e mais uma série de comparações trazendo à baila pessoas que já faleceram à pelo menos duas décadas e das quais ninguém se lembra. Mas como é que ela consegue ver aquilo? Que treta do caralho. É um recém-nascido, eles são todos iguais. Feios que dói e com um aspecto doente. Ali, embrulhados numa mortalha, numa ala da maternidade, vermelhos que nem um tomate e carecas com apenas uns pintelhos mal semeados na sua gigante e disforme cabeça.

Enfim, sejam bem vindos a este mundo.

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