Alguma vez viram alguém ficar chateado por estar morto? Jamais. Nunca ninguém veio reclamar por ter chegado ao fim da sua vida. Nem Jesus Cristo, que se deu ao trabalho de ressuscitar, perdeu muito tempo com conversas e estadias demoradas. Estar morto é estar cool. Basta ver que para se ser reconhecido e admirado nada melhor que estar morto.

Os mortos são extremamente sossegados e dão os melhores vizinhos. Basta perguntarem a alguém que viva perto de um cemitério. É um descanso. Basta de aturar complexas reuniões de condomínio e levar com música em altos berros. Basta de barulho a horas impróprias e cheiro a fritos pelo patamar da escada. Com um morto como vizinho acabam-se as cusquisses de toda a ordem. A única desvantagem que me ocorre é que nunca lá podem ir pedir uma malga de arroz ou um pezinho de salsa. Mas nada na vida é totalmente positivo. Tudo tem prós e contras. E acho que no caso da vizinhança defunta as vantagens ultrapassam em muito as desvantagens.

Daí eu propor o seguinte. Entre cada habitação, fogo, moradia, apartamento ou lar de qualquer espécie devesse sempre estar uma campa. Quem diz campa diz jazigo, urna funerária ou qualquer coisa semelhante. O que é preciso é que não respire. Então porque não colocar lá uma pedra, um fardo de palha ou qualquer outra coisa inanimada, perguntam vocês? Porque as pessoas respeitam os mortos. Especialmente se eles estiverem a repousar a poucos metros da cama de cada um. Quem é que se vai ralar que a música esteja alta ao pé de uma pedra ou de um fardo de palha? Ninguém. Agora de um morto…ui ui ui… a coisa muda de figura. O indivíduo vai pensar duas vezes em ligar a máquina de lavar roupa às duas da manhã sabendo que ao lado jaz o Sr. Armindo que se fosse vivo faria a bela idade de cento e doze anos.

Pois é. Aposto que nunca tinham pensado em nada disto. Mas faz todo o sentido não faz? Claro que sim. Como é que se pode discordar num assunto destes. Não há argumentação que valha.

Outra vantagem bastante obvia é o fim dos cemitérios. No passado já escrevi sobre isto. Estes espaços não passam de deploráveis costumes medievais que ainda por cima se dão ao luxo de ocupar sempre os melhores lugares em qualquer localidade. São habitualmente situados em zonas solarengas e de vista desafogada. Vamos portanto mudar perspectivas e comportamentos. Cada um fica com um morto entre si e o vizinho do lado. A dividir por todos não custa nada.

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